O que Deus quer nos ensinar?


O que Deus quer nos ensinar?

É quase inacreditável que, poucos dias atrás, a nossa vida era completamente diferente da nossa vida neste exato momento (20 de março de 2020). Estamos completamente privados de qualquer contato social para evitarmos a transmissão deste novo vírus. Em se tratando do povo de Deus, isso significa, deixar de congregar. Jamais imaginei que em algum momento do meu ministério pastoral eu tivesse que tomar uma decisão como essa, fechar a igreja para os cultos públicos e para escola bíblica.

Deixar de congregar para mim era incogitável, Hebreus 10.25 providenciava a base bíblica para isso. Quando pensava em deixar de congregar, isso me soava como “falta de fé” na soberania de Deus. Porém, logo percebi que o inimigo que eu tinha em mente era outro, não estamos enfrentando uma perseguição à igreja cristã no Brasil, o inimigo neste momento é invisível. E por mais chocante que isso possa ser para muitos, o coronavírus (em última análise) procede de Deus. Deus é Soberano sobre tudo e sobre todos.

Salmo 46.8 “Venham contemplar as obras do SENHOR, que tem feito desolações na terra.

Diante disto, logo me vem aos ouvidos as palavras de Jó 2.10 que diante de tão grande sofrimento pessoal disse para sua esposa: “...Temos recebido de Deus o bem; por que não receberíamos também o mal?

A Bíblia nos mostra que ao longo de toda a história, Deus usa de sofrimento, calamidade, opressão e tantas outras circunstâncias ruins, com o objetivo de tratar com o Seu povo, com o objetivo de trabalhar no caráter de Seus filhos e de levá-los ao amadurecimento da sua fé. Têm sido assim desde Abraão até o período apostólico, continua assim na história da Igreja Cristã.

O que devemos fazer neste momento, é olhar para os exemplos da Palavra de Deus e buscar neles auxílio. Neste tempo de reclusão devemos buscar em Deus e na Sua Palavra, não podemos desperdiçar esse tempo. Devemos meditar sobre: O que Deus quer nos ensinar com este momento que estamos enfrentando? Por que Deus deseja que deixemos de congregar?

Não existem respostas prontas ou fáceis, mas quero propor algumas meditações nesse sentido:

1) É tempo de valorizar o que perdemos.

Quando o povo judeu foi disperso durante o exílio da babilônico, quando o povo judeu viu a destruição do seu Templo, quando o povo judeu perdeu a centralidade do culto em Jerusalém, só então, passou a valorizar o tesouro que eles tinham. Houve um sentimento nacional de reconstrução daquilo que, por muitas vezes, foi profanado pelo próprio povo de Deus.

Esta parece ser uma característica naturalmente humana. Aquilo que é precioso, quando se torna cotidiano, corriqueiro, perde o seu brilho e o seu real valor. Talvez, isso tenha acontecido em nossos dias com a Igreja Local. Passou do tempo de valorizarmos a congregação.

Quantas vezes trocamos o culto público em nossa igreja local por um pouco mais de descanso? Quantas vezes trocamos a congregação para assistir um evento esportivo ou um programa de televisão? Quantas vezes trocamos a igreja para estudar para uma prova?

Neste próximo domingo não teremos como trocar o ir à Igreja por nada, pois nós simplesmente somos impedidos pelas circunstâncias de congregar. Tenho certeza, que muitos de nós, sentiremos um peso, uma dor no coração nunca antes sentida. Que essa dor jamais seja esquecida, que essa dor seja relembrada para as gerações futuras quando o culto público for reestabelecido, que essa dor não seja em vão.

É tempo de valorizar aquilo que perdemos.

2) É tempo de buscar alternativas.

Usando ainda o exemplo do cativeiro babilônico, quando o povo judeu se viu distante do culto centralizado no Templo, quando o povo judeu se viu disperso, se fez necessário buscar uma alternativa. Diante deste cenário, surge a sinagoga. O culto no Templo foi gradualmente substituído pelo estudo das Escrituras em diversos locais espalhados por toda a Palestina. Sabemos que a sinagoga teve um papel fundamental na primeira vinda de Cristo e na propagação do Evangelho nos primeiros séculos.

Neste momento atual, Deus nos envia para os nossos lares. É tempo de nos aquietarmos em nossas casas com nossas famílias. Em alguns casos, é tempo de solidão, de ficar sozinho. Por algum motivo Deus não quer que congreguemos como normalmente fazemos. É tempo de buscar alternativas.

Sem dúvida alguma, é tempo de culto doméstico. É tempo de meditação pessoal, é tempo de oração nos lares, é tempo de parar e buscar a Deus no silêncio.

Em uma geração onde muitos pais colocam nos ombros das igrejas e dos pastores a responsabilidade por ensinar a Palavra de Deus aos seus próprios filhos, este é um tempo da família tomar para si as responsabilidades que são suas. Deuteronômio 6.5-7 “Portanto, ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força. Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração. Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se.

3) É tempo de unir forças e nos preparar para reconstruir.

Mesmo distantes, devemos e podemos nos unir, de que forma? Por meio da oração. Juntos, mesmo que distantes geograficamente, devemos orar para que Deus abrevie este tempo, para que uma cura seja encontrada, para que Deus nos livre desta doença, para que este tempo seja uma oportunidade de pregação e pessoas sejam despertas para a realidade da brevidade desta vida e de seus próprios pecados. Motivos de oração não faltam neste momento.

Porém, além de nos unirmos em oração, devemos desde já, nos preparar para um tempo de reconstrução que virá logo adiante. Nós teremos de ser fortes para enfrentar o que virá, assim como o remanescente do exílio precisou ser forte para reconstruir os muros de Jerusalém, reconstruir o Templo e a vida espiritual de uma nação.

Ainda não temos como mensurar a dimensão do problema que enfrentaremos adiante, mas devemos nos preparar para isso. É possível que igrejas não sobrevivam economicamente depois deste período; é possível que pastores e missionários fiquem sem sustento; é possível que irmãos de dentro da comunidade local percam seus empregos ou suas empresas fechem em meio à crise. Precisamos nos preparar desde já.

Passamos muitos anos pregando sobre diversos assuntos como algo distante de nós. Por diversas vezes, pastores precisaram explicar o contexto do sofrimento para uma geração que pouco enfrenta sofrimento em suas vidas. Chegou a hora de viver o que pregamos, chegou a hora de colocar em prática a nossa teologia. Chegou a hora de encontrar a alegria e plena satisfação apenas no Senhor.

Tenho certeza de que Deus estará ao lado do seu povo neste momento tão difícil e que sairemos disso muito mais fortes do que entramos. Tenho plena certeza que no futuro vamos lembrar destes dias e enxergar que esta pandemia era a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para todos nós (Romanos 12.2).

Que Deus nos abençoe.

Pr. Fernando Di Domenico

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