Escola
Bíblia: O Plano da Salvação – Lição 1
Baseado
no Livro: O Estranho no Caminho de Emaús
de
John R. Cross
O
ano — aproximadamente 33 d.C.
O
sol do meio dia era escaldante. Tudo estava quieto. Até os pássaros
se recusavam a cantar sob aquele calor excessivo. Cleopas chutou um
torrão seco da estrada poeirenta e suspirou profundamente em sinal
de cansaço. Apertando os olhos naquele mormaço, quase não podia
distinguir o próximo cume. A poucos quilômetros, do outro lado,
estava Emaús, sua casa e a de seu companheiro de viagem. O
pôr-do-sol chegaria antes deles. Normalmente, eles teriam deixado
Jerusalém mais cedo (afinal de contas, 11 quilômetros são uma
caminhada razoável), mas os eventos da manhã os retiveram, pois
desejavam notícias mais concretas. Emaús não tinha muito de
cidade, mas hoje parecia muito atraente. Qualquer lugar o seria,
menos Jerusalém com sua turba ruidosa, suas cortes romanas e seu
governador, Pôncio Pilatos.
Os
pensamentos de Cleopas foram trazidos abruptamente ao presente quando
seu irritado companheiro de viagem lhe fez uma pergunta pela segunda
vez. Os dois discutiam o que havia acontecido naquele dia e nos
últimos anos, até que não houvesse mais nenhum detalhe a ser
analisado. Cleopas estava exausto e, pior do que isso, confuso, com
tudo o que havia ocorrido em Jerusalém. Naqueles dias, parecia que a
vida continha mais perguntas do que respostas.
Arrastando-se
colina abaixo, dobraram uma curva. Foi então que encontraram o
estranho.
Horas
mais tarde, no mesmo dia, na mesma noite, quando os dois voltaram a
Jerusalém, quentes e suados — pois tinham se apressado — não
conseguiram explicar aos seus amigos como o estranho se juntara aos
dois. Primeiro, Cleopas pensou que ele tivesse saído da sombra de
uma grande pedra, mas isto não se encaixou com a explicação de seu
amigo. O fato era este: eles não estavam certos de onde ele surgira.
Um pouco hesitante, Cleopas disse que o estranho simplesmente tinha
aparecido. A reação dos amigos foram alguns comentários
zombeteiros a respeito do calor e muito sol.
Mas
de uma coisa eles estavam certos: durante várias horas o
desconhecido explicou as antigas escrituras — a Bíblia —
começando desde o princípio, e o fez de forma inacreditável. A
mensagem do estranho fez desaparecer todo o desânimo e dúvida de
suas mentes. Assim, impressionados pela nova compreensão que
obtiveram, apressaram-se em todo o caminho de volta a Jerusalém para
contarem aos seus amigos sobre O estranho. De algum modo, esses
também precisavam ouvir a mensagem — a mensagem que Cleopas e seu
companheiro haviam ouvido no CAMINHO DE EMAÚS.
Afinal,
o que foi que O estranho falou sobre a Bíblia — para muitos, um
livro confuso — que fez tanto sentido?
É
disso que trata este livro. E para compreendê-lo claramente, faremos
o que O estranho fez — começaremos desde o princípio.
COMPREENDENDO
CORRETAMENTE AS COISAS
Pare
e pense: é muito razoável gastar algumas horas da sua vida para
tentar compreender a Bíblia.
Afinal,
a Bíblia contém declarações muito profundas sobre a vida … e
sobre a morte.
Durante
séculos, a Bíblia tem sido um best seller (o livro mais vendido).
Qualquer pessoa que pretende ter um mínimo de informação precisa
entender seu conteúdo básico. Infelizmente, a Bíblia tem caído em
descrédito, não pelo o que ela diz, mas porque alguns homens e
mulheres famosos, que dizem seguir a Bíblia, fizeram algumas das
piores escolhas na vida.
Da
mesma forma, a mensagem do livro sofreu ataques, às vezes, por
pessoas bem intencionadas, que nunca reservaram tempo para realmente
entenderem o que ela diz.
Mas
a Bíblia não mudou. E, apesar do que os hipócritas ou críticos
dizem, vale a pena conhecê-la:
…
para sua própria paz de espírito,
…
para o bem da sua própria vida e para o bem da sua vida após a
morte.
UM
QUEBRA-CABEÇA
Em
muitos sentidos, a Bíblia é como um quebra-cabeça. Com isso, não
quero dizer que sua mensagem esteja oculta, mas que, para entendê-la
corretamente, precisamos colocar as “peças bíblicas” no lugar
certo. Podemos fazer isso aplicando quatro princípios básicos do
aprendizado.
ALICERCES
O
primeiro princípio é aquele que usamos todo o tempo. Para aprender
qualquer conceito novo, é necessário construir desde o alicerce —
partir do conhecido para o desconhecido. Você não começa
ensinando matemática avançada para uma criança no jardim de
infância. Antes, começa com os números básicos e segue do simples
para o complexo. Se você omitir os alicerces, até mesmo os mais
simples conceitos de matemática avançada estarão além da sua
compreensão.
O
mesmo ocorre com a Bíblia. Se você negligenciar os alicerces, seu
entendimento bíblico abrigará algumas ideias estranhas, resultando
uma mensagem confusa; o quebra-cabeça apresentará uma imagem
errada. Neste estudo, começaremos com o básico e progrediremos a
cada capítulo, construindo sobre os conhecimentos já obtidos.
CONSTRUINDO
UM VARAL
O
segundo princípio é importante, especialmente quando se aprende
História ou quando se lê uma história. Resumindo, é o seguinte:
comece do início e vá, em sequência até o fim. Pode parecer
óbvio, mas muitas pessoas tendem a ler a Bíblia aos pouquinhos e
não em sequência, nunca dedicando tempo para ligar as partes. Neste
estudo, destacaremos os acontecimentos principais, enfileirando-os em
sequência — como pendurar roupa em um varal. Como esta visão
geral não abordará todos os assuntos, é de se esperar que haja
algumas brechas no varal. Se você quiser, as brechas podem ser
preenchidas mais tarde, depois que você tiver o quadro geral.
Embora
esse varal não inclua todos os acontecimentos, os eventos que
estudaremos se juntarão em uma mensagem contínua. Se você for um
leitor típico, quando terminar a leitura deste livro, a Bíblia fará
sentido de maneira extraordinária. De qualquer forma, fica
totalmente a seu critério acreditar nela ou não. Eu espero
sinceramente que você creia, mas essa escolha será sua. A tarefa
deste estudo é ajudá-lo a entendê-la claramente.
SORVETE
E SOPA
O
terceiro princípio é de extrema importância. Não misture os
temas — concentre-se em um tema por vez.
A
Bíblia trata de diferentes questões. Ela pode ser comparada a um
livro de culinária com suas diversas receitas. Tradicionalmente, a
Bíblia tem sido fragmentada em tópicos, tais como: Deus, anjos,
homem e profecias. A intenção era facilitar a compreensão, mas é
preciso ter cuidado. Ao observarem assuntos bem parecidos em trechos
diferentes, algumas pessoas tentam relacionar as ideias,
frequentemente resultando em uma compreensão errada do significado
original.
“É
como pular de uma receita de sorvete de milho para uma receita de
sopa de milho só porque ambas tem a palavra milho. Se você começar
a fazer sorvete e terminar com a receita de sopa, esquentará o
sorvete até ficar bem derretido! Ambas podem ter a palavra milho,
mas, misturadas, formam uma comida esquisita!”
Se
você ficar pulando de um tópico para o outro ao ler a Bíblia, o
resultado será uma confusão — seu quebra-cabeça ficará
desconjuntado. Para evitar confusões assim, iremos nos concentrar em
um tema por vez.
PRIMEIRO,
O RELEVANTE
Este
último princípio — primeiro, o relevante — deve ser
aplicado a qualquer situação de aprendizado de um conteúdo
desconhecido para nós. A idéia é aprender os pontos mais
importantes primeiro.
A
Bíblia inclui uma imensa variedade de assuntos, mas nem todos têm a
mesma importância. Neste estudo focalizaremos um tema maior — o
tema mais significativo da Bíblia. Uma vez que o entendermos, a
Bíblia terá um sentido profundo, e ao mesmo tempo simples.
A
mistura de vários tópicos é uma das razões de encontrarmos muitos
grupos diferentes de igrejas, religiões e seitas, que, em graus
variados, defendem a Bíblia como seu livro. A “sopa” tem sido
misturada com o “sorvete”. O quebra-cabeça apresenta um quadro
sem sentido. Em alguns casos, a confusão é menor. Em outras
situações, a desordem tem provocado resultados terríveis.
UM
ÚNICO LIVRO
Não
há dúvida sobre isto: a Bíblia é um livro inigualável. Na
verdade, é uma coleção de livros; sessenta e seis ao todo. Um
autor, escrevendo sobre a singularidade da Bíblia, expressou-se
assim:
Aqui
está um livro:
1.
escrito ao longo de mais de 1500 anos;
2.
escrito durante um período de mais de 40 gerações;
3.
escrito por mais de 40 autores, provenientes das mais diversas
posições e áreas de atividade — incluindo reis, camponeses,
filósofos, pescadores, poetas, estadistas, sábios, etc.:
Moisés,
um líder político, treinado nas universidades do Egito
Pedro,
um pescador
Amós,
um pastor
Josué,
um general
Neemias,
um copeiro
Daniel,
um primeiro ministro
Lucas,
um médico
Salomão,
um rei
Mateus,
um coletor de impostos
Paulo,
um rabino
4.
escrito em diferentes lugares:
No
deserto, por Moisés
No
calabouço, por Jeremias
Num
palácio, por Daniel
Numa
prisão, por Paulo
Durante
viagens, por Lucas
Na
ilha de Patmos, por João
Durante
as durezas de uma campanha militar, por outros
5.
escrito em épocas diferentes:
por
Davi, em tempos de guerra
por
Salomão, em tempos de paz
6.
escrito com diferentes estados de ânimo:
alguns
livros escritos no auge da alegria e outros nas profundezas da
aflição e desespero
7.
escrito em três continentes:
Ásia,
África e Europa
8.
escrito em três línguas:
hebraico,
aramaico e grego
9.
Finalmente, seu objeto de estudo inclui centenas de tópicos
polêmicos. Observe-se ainda que os autores bíblicos escreveram
harmoniosamente e com continuidade, de Gênesis a Apocalipse. Há
somente uma história …
Essa
única história é o que queremos estudar — de modo simples
e sem as frases comuns dos estudiosos. Sem dúvida, a coisa mais
singular da Bíblia é que ela afirma ser a própria palavra de Deus.
INSPIRADA
POR DEUS
Muitas
vezes chamada de “as Escrituras”, a Bíblia declara que …
Toda
a Escritura é inspirada por Deus … 2 Timóteo 3.16
O
conceito de Deus inspirando as Escrituras é um estudo em si mesmo.
Assim como quando alguém solta o fôlego e este sai do mais profundo
interior dessa pessoa, toda a Escritura deve ser vista como produto
do próprio Deus. Deus e suas palavras são inseparáveis. Por isso a
Bíblia frequentemente é chamada a Palavra de Deus.
PROFETAS
De
modo bem simplificado, podemos definir assim: Deus falou a homens o
que Ele queria registrar e esses homens o escreveram. A maioria deles
foi chamada de profeta.
Há
muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos
antepassados por meio dos profetas … Hebreus 1.1
Hoje
pensamos nos profetas como aqueles que predizem o futuro, mas nos
tempos bíblicos um profeta era um mensageiro que transmitia as
palavras de Deus ao povo. Às vezes, a mensagem se referia a eventos
futuros, mas na maioria das vezes não; estava relacionada ao dia a
dia das pessoas.
Deus
guiou os profetas de maneira que registrassem precisamente o que Ele
queria que fosse escrito. Ao mesmo tempo, Deus permitia ao escritor
humano registrar Sua Palavra — a Palavra de Deus — no
estilo próprio do profeta, mas sem nenhum erro. Esses homens não
estavam livres para acrescentar seus pensamentos particulares à
mensagem; nem essa era algo proveniente da sua própria imaginação.
…
saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação
pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas
homens falaram da parte de Deus, impelidos … 2 Pedro 1.20-21
Deus
não colocou o seu carimbo de aprovação sobre algum tipo de
literatura feita pelo homem. A expressão impelidos é usada
em outros lugares na Bíblia referindo-se ao transporte de um homem
paralítico. Assim como um homem inválido não pode andar por suas
próprias forças, os profetas não escreveram as Escrituras por sua
própria vontade. A Bíblia é clara neste ponto — ela é a
mensagem de Deus do início ao fim.
EXATIDÃO
EXTREMA
Os
profetas escreveram as palavras de Deus em rolos, normalmente uma
pele de animal ou papel feito de fibra vegetal. Os originais eram
chamados manuscritos.
Sendo
que os manuscritos tinham uma duração limitada, faziam-se cópias
dos rolos. Mas que cópias! E todas à mão! A consciência dos
escritores de que aquilo que estavam registrando era a própria
Palavra de Deus resultou em uma das mais notáveis tarefas de
fotocópias já feitas. No texto hebraico …
Eles
tinham todo cuidado possível. Nada era incômodo ou penoso a fim de
garantir a transmissão exata do texto. Contavam o número de letras
de um livro e destacavam a letra central, fazendo o mesmo com a
palavra central.
Isso
era feito tanto com a cópia como com o manuscrito original para
garantir que eles fossem exatamente iguais.
Esses
escribas eram tão precisos em sua transcrição que, quando os Rolos
do Mar Morto foram encontrados (escritos em 100 a.C.), e comparados
com manuscritos resultantes das cópias de cópias feitas cerca de
1000 anos mais tarde (900 d.C.), não se encontraram diferenças
significativas no texto.
Josefo,
um historiador judeu do primeiro século d.C., resumiu esse cuidado
para o seu povo, quando declarou: … quão firmemente temos dado
crédito aos livros da nossa própria nação, e isso é evidente
pelo que fazemos; pois durante as muitas eras que já passamos,
ninguém teve a ousadia de acrescentar qualquer coisa a eles; para
tirar qualquer coisa deles ou fazer alguma mudança neles; mas
tornou-se natural para todos os judeus … amar esses livros …
divinos.
Esses
homens estavam totalmente convencidos de que tentar mudar o texto era
provocar o próprio Deus. Temos razões suficientes para assegurar
que o texto que temos hoje é essencialmente o mesmo que os profetas
escreveram.
Verdadeiramente,
a Bíblia é um livro singular sob qualquer ponto de vista. Não
admira que a Bíblia seja … o mais citado, o mais
publicado, o mais traduzido e o mais influente livro na história da
humanidade.
ANTIGO E NOVO
TESTAMENTOS
Para começarmos a
estudar a Bíblia, é importante saber que as Escrituras são
divididas em duas seções maiores — o Antigo e o Novo Testamentos.
Historicamente, a porção do Antigo Testamento foi subdividida em
outras duas categorias:
1. A Lei de Moisés
(às vezes referida como O Torah, Os Livros de Moisés ou A Lei)
2. Os Profetas (Mais
tarde esta porção foi subdividida em mais uma terceira seção,
chamada Os Escritos.)
Nas Escrituras, os
títulos A Lei e Os Profetas são uma maneira de referir-se a todo
Antigo Testamento — uma parte que compreende aproximadamente dois
terços da Bíblia. A terceira parte restante é chamada O Novo
Testamento.
PALAVRA DE DEUS
Lembre-se de que a
divisão em categorias não é o ponto crucial. O importante é ter
em mente que a Bíblia afirma ser a Palavra de Deus — a mensagem
dele para a humanidade. Ela nos ensina que, através de suas páginas,
podemos conhecer a Deus. Essa declaração deveria fazer com que até
mesmo o mais indiferente dos homens pare e considere o que ela tem a
dizer.
A tua palavra,
SENHOR, para sempre está firmada nos céus. Salmo 119.89
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