Escola Bíblica - Tema: Quem Somos Nós? 1

Lição 1: A Origem das denominações.
     
Professor: Pr. Antônio Neto.

Certa vez, conversando com uma senhora a quem eu estava evangelizando, ela me disse: “não sou evangélica, porque há tanto tipo de igreja evangélica que nem dá para saber qual está correta”. O que esta senhora estava dizendo, em parte, é verdade, pois o Brasil possui incontáveis denominações evangélicas.
Além das denominações mais tradicionais, como as Igrejas Presbiterianas, as Igrejas Assembleia de Deus e as Igrejas Batistas, há uma série de variações. Há aquelas que não gostam do nome “igreja” e adotam o termo “comunidade” ou “congregação”. Há outras denominações que visam a publicidade, adotando nomes como “Igreja da visão de águia”, ou “Igreja canelas de fogo”.
Mais complicado ainda é o fato de que nem mesmo nas denominações tradicionais citadas acima há unidade. Por exemplo, as igrejas Assembleia de Deus incluem a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, a Assembleia de Deus ministério central, e até, de acordo com uma pesquisa na internet, a Assembleia de Deus pavio que fumega. Nas igrejas presbiterianas, há as presbiterianas independentes, as renovadas, as presbiterianas do Brasil e etc. E nas Batistas não é diferente.
Uma breve pesquisa na internet é suficiente para se descobrir nomes de igrejas como “IGREJA JESUS ESTÁ VOLTANDO, PREPARA-TE”, IGREJA EVANGÉLICA A ÚLTIMA TROMBETA SOARÁ”, “IGREJA “A” DE AMOR”, e ainda a “CRUZADA EVANGÉLICA DO PASTOR WALDEVINO COELHO, A SUMIDADE”.
Mas afinal, de onde vem tanta igreja? Por quê tanta igreja assim? Por quê que nem no catolicismo, nem em outras religiões existem tantas variações como nas igrejas evangélicas? No meio disso tudo, onde nós nos encaixamos?
Este é o primeiro estudo de uma série que tem como tema geral “Quem somos nós?”. Nosso propósito é entender todo o movimento evangélico e entender o que nós somos em meio a toda esta “confusão”. Nesta primeira aula, tentaremos compreender toda esta variação entre os evangélicos.

I.                   DEFINIÇÕES IMPORTANTES
Antes de começarmos nossos estudos, é bem importante definirmos bem os termos sobre os quais vamos tratar. Primeiro, é bom distinguirmos entre denominações evangélicas, seitas cristãs e religiões cristãs e não-cristãs.
Uma seita é um grupo de pessoas que negam uma crença tradicional do cristianismo, mas que ainda intitula-se cristã. Por exemplo, as Testemunhas de Jeová negam a divindade de Jesus e do Espírito Santo, mas ainda se intitulam-se cristãos. Por isso, as seitas não são consideradas igrejas evangélicas, mas um seguimento religioso específico. Assim, os Mórmons, os Espíritas e as Testemunhas de Jeová são seitas, e não denominações evangélicas.
Uma religião cristã é um seguimento que possui certas crenças oriundas das Escrituras e especialmente afirma ter como seu mestre inicial a pessoa de Jesus de Nazaré. Tradicionalmente, há duas grandes religiões cristãs, o Catolicismo e o Prostetantismo. Da mesma maneira, o Xintoísmo, o Islamismo são exemplos de religiões não-cristãs, pois possuem crenças alicerçadas em outros líderes religiosos, como Confúcio, Buda ou Maomé.
Por fim, uma denominação evangélica é um grupo específico dentro do Protestantismo que abraça uma forma específica de fé e prática, sem abrir mão dos elementos essenciais que os tornam evangélicos. Por exemplo, todos os evangélicos, com raríssimas exceções, concordam que Deus é Trino, que a Bíblia é a Palavra de Deus, que Jesus morreu pelos nossos pecados e ressuscitou, e que Jesus voltará. No entanto, umas igrejas acham que crianças devem ser batizadas, outras acham que não, e isso então divide-as em denominações, mas ainda os mantém no mesmo grupo geral do protestantismo.
Portanto, nossos estudos não tratarão da diferenças entre evangélicos e católicos, nem entre evangélicos e as seitas, mas de diferenças entre os próprios evangélicos. Portanto, a Igreja Batista e a Igreja Presbiteriana são denominações evangélicas.

II.                A ORIGEM DAS DENOMINAÇÕES


A.               Origem Histórica
No início, só havia uma igreja cristã. Com os apóstolos ainda vivos, os cristãos sempre viam uma maneira de manterem-se unidos pelo ensino deles. Por exemplo, quando houve um debate entre as igrejas se os crentes não-judeus deveriam se circuncidar como os judeus, foi uma reunião dos apóstolos quem resolveu (Atos 15).
Depois da morte dos apóstolos, a igreja continuou unida por meio de várias reuniões, chamadas de Concílios. Quando aconteciam discordâncias, eram convocados Concílios para chegar a uma resolução. Porém, depois que o cristianismo se tornou a religião do império romano, ela tornou-se organizada em torno da figura do Papa, e tomou a forma da igreja católica que conhecemos hoje.
Depois de muitos anos, por volta do século XVI, uma série de homens começaram a notar os graves erros cometidos pela igreja papal e decidiram romper com o papado. Dentre eles, os mais importantes foram Lutero e Calvino. Daí começou um novo seguimento religioso, o protestantismo, ou seja, aqueles que romperam com a igreja católica papal.
No entanto, embora os protestantes concordassem em determinados pontos, como a centralidade das Escrituras, a Salvação apenas por Cristo por meio da fé, a mediação única de Jesus, e não de Maria e dos santos católicos, eles possuíam opiniões diferentes em outros pontos importantes, como a forma de governo da igreja, a natureza do batismo, e a forma de se cultuar a Deus.
Destas discordâncias, surgiram quatro grandes modelos de igrejas: 1) O Luteranismo, que seguem os pensamentos de Lutero; 2) Os Reformados ou Presbiterianos, que seguem o pensamento de João Calvino; 3) Os Anglicanos, que seguiam as normas do reinado da Inglaterra; e 4) As igrejas livres, como os anabatistas e depois os Batistas, que eram grupos locais com líderes específicos.
Com o decorrer dos anos, foi natural que houvesse tanto sincretismo entre estas igrejas, como o surgimento de novos formatos. Surgiram, então, igrejas Batistas Reformadas, que foram igrejas batistas que abraçaram os ensinos de João Calvino, e Anglicanas Reformadas. Também, surgiram igrejas como as igrejas Pentecostais, que pregavam um novo agir do Espírito Santo no meio da igreja, com atos como o falar em línguas, profecias e etc.
Deste surgimento, houve outros sincretismos. Há, por exemplo, igrejas batistas reformadas, igrejas batistas não-reformadas e igrejas batistas pentecostais. Também surgiram igrejas presbiterianas reformadas pentecostais. Há também igrejas luteranas pentecostais e tradicionais. Além do aparecimento de outras grandes denominações pentecostais, como a Assembleia de Deus.
Portanto, precisamos saber que as denominações evangélicas surgiram do rompimento com o governo papal. Desta forma, as igrejas, embora concordassem em pontos fundamentais, sentiram-se livres para expressar seus pensamentos específicos em outros assuntos. Por causa dessa liberdade de um líder religioso maior, os protestantes assumiram as mais variadas formas. 

B.                Origem Doutrinária.
Como vimos anteriormente, as igrejas evangélicas, ou protestantes, são chamadas assim por possuírem um grupo de crenças comuns. Dentre estas crenças, as principais são a crença na autoridade única da Bíblia, na salvação apenas pela graça por meio da fé, a salvação apenas por Cristo, e a adoração apenas para Deus. Estas são as crenças que foram protestadas contra os católicos e que mantém os evangélicos no mesmo conjunto.
No entanto, não existe consenso entre os evangélicos em assuntos importantes, que interferem diretamente na prática da igreja. Cada denominação tem pensamentos diferentes em assuntos importantes, tais como: o método de batismo (imersão ou aspersão); a soberania de Deus versus livre arbítrio em relação à salvação (calvinismo ou arminianismo); a forma de governo da igreja (presbitério, bispo ou congregação); a existência dos dons de “sinais” na era moderna (continuam ou cessaram), etc.[1] Desta maneira, se um grupo acredita, por exemplo, que deve batizar crianças, e outro acredita que não, para não se provocar contendas dentro da igreja, os grupos se dividem em igrejas que pensam diferente, mas que andam juntas em pontos mais importantes.
Infelizmente, outro fator para a grande variedade de denominações deve ser acrescentado. Atualmente, várias igrejas surgem para satisfazer os gostos dos interessados. Assim, há igreja para surfistas, igreja para quem quer prosperidade, igrejas para quem quer curas, ou para os que desejam experiências “poderosas” com Deus e etc. Este é, talvez, o maior fator atual para o surgimento de novas denominações evangélicas.
Portanto, embora haja um grupo amplamente variado de denominações, as igrejas evangélicas são unidas por algumas crenças comuns e por um cabeça, que é Cristo. Por causa da liberdade que temos de ler e entender a Bíblia, pensamentos diferentes surgem, e consequentemente surgem também grupos diferentes. Infelizmente, esta mesma liberdade é mal usada para a criação de igrejas “ao gosto do freguês”, outro fator originador de denominações.

III.             RESUMO DAS DENOMINAÇÕES

Basicamente, podemos organizar as denominações no Brasil em quatro grandes grupos. Veremos, na próxima aula, as características básicas de cada grupo. Por hora, precisamos entender bem onde localizar cada igreja em seu grupo maior de denominações.
Os grandes grupos de denominações brasileiras são: 1) As igrejas pentecostais; 2) as igrejas reformadas; 3) as igrejas fundamentalistas; e 4) As igrejas neopentecostais.
Duas observações precisam ser feitas antes de progredir. Primeiro, estou deixando de fora denominações como a igreja luterana e a igreja metodista, pois não constituem “grupo de denominações”, mas sim denominações históricas específicas. Também deixo de fora as igrejas “gosto do freguês”, pois não se encaixam em nenhum grupo. Segundo, essa divisão não leva em conta os sincretismos, como igrejas reformadas pentecostais, ou fundamentalistas pentecostais. Como veremos em outra aula, o pentecostalismo atingiu todas as denominações históricas, como presbiterianos, batistas, luteranos e etc.
Segue, para concluir, uma tabela com os quatro grandes grupos e as suas principais denominações no Brasil.

Pentecostais
Reformados
Fundamentalistas
Neopentecostais
·      Assembleia de Deus.
·      Deus é Amor.
·      Brasil Para Cristo.
·      Evangelho Pleno.
·      Evangelho Quadrangular
·      Presbiteriana
·      Anglicana
·      Batistas Reformados.
·      Batista da Convenção.
·      Batista Regular
·      Batistas Bíblicas
·      Batistas Independentes
·      Congregacionais
·      Universal
·      Internacional da Graça.
·      Mundial do Poder de Deus.
·      Sara Nossa Terra.
·      Renascer em Cristo.
 

IV.             PERGUNTAS PARA REFLETIR

A.               Por quê você acha que não há tantas denominações no catolicismo?
B.                Quais são os pontos positivos e os negativos de existirem tantas denominações evangélicas?
C.               O que você acha da frase “Placa de igreja não tem importância”?





[1] http://www.gotquestions.org/Portugues/denominacoes-Cristas.html#ixzz2agIHdqa0

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