Lição 2: Os Pentecostais
Prof: Pr
Antônio Neto
Introdução
Na lição
passada, tentamos entender as origens das denominações. Também vimos um quadro
geral de como organizar as várias igrejas em seus grupos específicos. Agora,
tentaremos entender as características de cada um dos quatro grupos
apresentados: pentecostais, reformados, fundamentalistas e neopentecostais.
Antes
de iniciar, é importante lembrarmos alguns pontos. Primeiro, apesar de haverem
quatro grandes grupos de denominações no Brasil, não podemos radicalizar tal
divisão. Como já foi dito, há sincretismo entre os grupos, como reformados
pentecostais, e fundamentalistas com crenças reformadas. O que queremos é
entender os elementos distintivos de cada grupo denominacional.
Em
segundo lugar, em cada grupo, com exceção dos fundamentalistas, há igrejas que
apresentam crenças hereges. Há igrejas pentecostais que não crêem na Trindade,
há igrejas reformadas que não crêem na divindade de Cristo e há igrejas
neo-pentecostais que não creem na autoridade única das Escrituras. No entanto,
tais igrejas são exceções e, por isso, não serão analisadas.
O
primeiro grupo, portanto, que estudaremos é o pentecostalismo. Veremos sua
origem, suas crenças básicas e, então, faremos uma breve avaliação.
I.
ORIGEM
A.
Características
Gerais
1.
O nome “pentecostal” vem da festa
judaica chamada de “festa das semanas”. Em Atos 2:1 diz que o Espírito Santo
desceu sobre os discípulos no “dia de Pentecostes”, ou seja, no ultimo dia da
festa das semanas. Desta maneira, como o pentecostalismo prega uma “nova”
descida do Espírito, eles adotaram o termo “Igreja Pentecostal” para si.
2.
Os pentecostais são o maior segmento
evangélico no Brasil. A Assembleia de Deus, por exemplo, é quase três vezes
maior do que a segunda maior denominação brasileira, os Batistas, com mais de
12 milhões de adeptos.
B.
Origem
Histórica
1.
A origem do pentecostalismo é atribuída
a um afro-americano chamado William Seymour. Um de seus professores, chamado
Charles Parhan, concluiu que o falar em línguas seria o sinal visível do
batismo com o Espírito Santo. Seymour, em uma viagem para a cidade de Los
Angeles, promoveu o chamado “avivamento da rua Azusa”. Durante sua pregação em
uma reunião nesta rua, vários começaram a falar em línguas. Este evento, portanto,
no ano de 1906, é considerado a fundação do pentecostalismo.
2.
Este evento recebeu ampla divulgação
pela mídia local, provocando uma adesão rápida às novas ideias. Além disso, os
EUA viviam uma época de amplo envio de missionários, divulgando, assim, o
pentecostalismo em vários países do mundo.
3.
Inicialmente, os pentecostais ficaram
marcados pela forte ênfase no falar em línguas, no Batismo do Espírito como
posterior à conversão, e à ênfase em uma vida ascética, com alto padrão moral.
4.
No Brasil, a origem e o desenvolvimento dos
pentecostais são descritos como três grandes ondas.
5.
A Primeira Onda
a)
A primeira onda é o período de
desenvolvimento do pentecostalismo que vai de 1910 a 1950.
b)
Em 1910, apenas 4 anos depois do
avivamento da rua Azusa, os primeiros missionários pentecostais chegaram ao
Brasil.
c)
Em 1911, dois missionários suecos
chamados Daniel Berg e Gunnar Vingren, chegaram em Belém, no Pará. Participaram
de uma igreja Batista quando, após uma viagem do pastor local, inseriram as
idéias e práticas pentecostais, provocando um cisma na igreja e a fundação de
uma nova igreja, a Assembleia de Deus.
d)
Em 1914, com o envio de mais
missionários suecos, a igreja Assembleia de Deus se expandiu grandemente pelo
nordeste e pelo sudeste. Em 1930, já era uma igreja com enorme número de
adeptos em todo o Brasil. Neste ano, a sede foi transferida para o Rio de
Janeiro, com a fundação da CGADB, Convenção Geral das Assembleias de Deus.
e)
Nesta primeira onda, a ênfase
doutrinária das igrejas eram as mesmas do pentecostalismo norte-americano,
línguas, batismo do Espírito após a conversão e um alto padrão moral de vida.
6.
A Segunda Onda
a)
A segunda onda compreende os anos de
1950 a 1970, e marca uma ampla fragmentação do pentecostalismo brasileiro, com
a fundação de novas grandes denominações pentecostais por novos missionários
norte-americanos.
b)
As três maiores igrejas fundadas neste
período são: Igreja Brasil para Cristo, Igreja do Evangelho Quadrangular e a
Igreja Deus é Amor.
c)
Neste período, o Brasil vivia um amplo
processo de crescimento urbano. Por isso, os missionários enfatizaram a
evangelização em massa, promovendo cruzadas de curas, e o amplo uso das mídias
de rádio para a evangelização. Desta maneira, o pentecostalismo expandiu-se
consideravelmente, especialmente nas classes média e baixa da sociedade.
d)
A ênfase doutrinária desse período foram
as curas, além da manutenção das doutrinas do pentecostalismo clássico.
7.
A Terceira Onda
a)
A partir da década de 70, surgiram as
igrejas neopentecostais, grupo que estudaremos posteriormente.
b)
Estas igrejas surgiram sob a influencia
dos novos movimentos de sinais e maravilhas, ocorridos nos Estados Unidos.
Pastores de igrejas tradicionais no Brasil foram sendo influenciados por estes
movimentos, e promoveram as chamadas “renovações” em suas igrejas.
c)
Um dos elementos marcantes do
neopentecostalismo é a teologia da prosperidade, que ensina que o cristão tem
que possuir riquezas materiais nesta vida.
d)
As maiores igrejas deste período são a
Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, e a
Igreja Mundial, além de outras, como a Renascer em Cristo, e a Sara Nossa
Terra.
e)
A ênfase neste período foi nos sinais e
prodígios, como as famosas unções do riso, cair para trás, além dos exorcismos
e curas, além da Teologia da Prosperidade.
8.
Outro fator importante para o
desenvolvimento do pentecostalismo no Brasil foi o chamado “Movimento Carismático”.
Este movimento foi uma onda de pentecostalização de igrejas tradicionais, como
batistas e presbiterianos. Foi daí que se tornou difícil se dizer o que se faz
dentro de uma igreja apenas pela placa fora dela, e que houve uma suavização do
legalismo dos pentecostais tradicionais.
II.
CRENÇAS
E PRÁTICAS DISTINTIVAS
A.
A
Segunda Bênção
1.
A crença mais básica e distintiva dos
pentecostais é a Segunda Bênção. Esta crença diz que o cristão recebe a
habitação do Espírito Santo no momento da conversão, mas ainda necessita de um
enchimento, ou uma plenitude do Espírito, capacitando-o a servir e a exercer
seus dons. Este enchimento é chamado de Batismo com o Espírito Santo.
2.
Este Batismo deve ser buscado por cada
convertido, por meio de uma vida de santidade e oração.
3.
Pelo fato deste enchimento ser posterior
à conversão, é chamado de Segunda Bênção. Atualmente, os pentecostais tem
variado quanto ao tempo que pode distanciar a conversão do Batismo com o
Espírito, se é imediatamente após, ou não.
B.
O
Falar em Línguas
1.
Para a maioria dos pentecostais, a
evidencia visível do Batismo com o Espírito é o falar em línguas.
2.
Baseiam-se
no texto de Atos 2, quando o Espírito desceu sobre os discípulos e eles
passaram a falar em outras línguas.
3.
Estas línguas não são necessariamente
idiomas, mas são línguas celestiais.
C.
Os
Dons Espirituais
1.
Os pentecostais são Continuacionistas em
relação aos dons, ou seja, acreditam que todos os dons espirituais estão
disponíveis para serem praticados nos dias atuais.
2.
Embora o dom de línguas seja o dom mais
enfatizado, o Batismo com o Espírito habilita o cristão a exercer outros dons,
como profecias, curas e expulsão de demônios.
D.
A Ênfase na Experiência
1.
Por causa sua forte ênfase na
manifestação dos dons, os pentecostais promovem cultos com forte ênfase nestas
experiências sobrenaturais.
2.
Desta forma, os cultos são voltados para
promover tais experiências, com tempo musical relativamente longo, e pregações
que prezam mais por testemunhos pessoais do que exposição bíblica.
E.
“Culto” à Personalidade
1.
Ainda por causa da valorização das
experiências, aqueles que possuem experiências mais poderosas com Deus recebem
bastante atenção e valorização entre os pentecostais.
2.
Por isso, é comum entre pentecostais a
celebração de grandes líderes religiosos. Exemplos no Brasil são o Pr Silas
Malafaia e o Pr Marcos Feliciano.
F.
Outras
Crenças
1.
Na salvação, os pentecostais são
tradicionalmente arminianos, ou seja, entendem que a salvação é uma obra
conjunta de Deus e do homem, onde Deus apenas oferece, e cabe ao homem
aceita-lo ou não. Além disso, cabe ao homem manter-se salvo, doutra maneira ele
poderá perder sua salvação. Porém, no Brasil, tem havido um amplo crescimento
da teologia calvinista em igrejas pentecostais.
2.
Na forma de culto, os pentecostais são
abertos às novas tendências. As mais tradicionais, adotam hinos clássicos e
louvor mais comedido. As mais modernas abraçam cultos mais agitados, com
palmas, danças e uso de qualquer ritmo contemporâneo.
3.
Na forma de governo da igreja, há uma
série de títulos que torna bem complexa a administração das igrejas pentecostais.
Há os auxiliares, diáconos, diaconisas, presbíteros, pastores e pastoras e,
dependendo da igreja, até apóstolos ou bispos primazes.
4.
Na vida prática, são geralmente
triunfalistas, ou seja, mantêm uma visão de batalha espiritual, onde o cristão
precisa ser vencedor em todas as áreas de sua vida.
5.
Na doutrina das ultimas coisas, pensam
como os Batistas, acreditam em um reino terreno futuro de Jesus, precedido pelo
arrebatamento da igreja antes da Tribulação e um retorno visível de Cristo após
esta Tribulação.
III.
BREVE
AVALIAÇÃO DO PENTECOSTALISMO
A.
Pontos
Positivos
1.
Forte ênfase na evangelização e na ação
social. Os pentecostais são o grupo que mais prezam pelo envio de missionários,
fundação de igrejas, e implantação de trabalhos de assistência social.
2.
Forte ênfase no deslumbramento com o
sobrenatural. Os conservadores correm o sérios riscos de se fecharem às ações
de Deus no nosso cotidiano, na busca por milagres, e na ação de Satanás neste
mundo.
3.
Forte ênfase em cultos relevantes. Os
pentecostais nos motivam a buscarmos cultos alegres, que motivam os crentes a
louvarem a Deus e serem fortalecidos, por meio, especialmente, de louvores mais
ligados à realidade cultural.
B.
Pontos
Negativos
1.
As doutrinas da Segunda Bênção, do falar
em línguas como evidencia, e da continuidade de todos os dons carecem de base
bíblica, como veremos posteriormente.
2.
A ênfase nas experiências relativiza a
importância da Bíblia na vida e no culto. Por isso, é comum no pentecostalismo
uma falta de conhecimento da Palavra e uma falta de interesse no estudo
teológico.
3.
O culto à personalidade promove
lideranças de estilo centralizador e torna tais líderes intocáveis. Além disso,
congregação não possui poder de decidir e fiscalizar o que se faz com suas
contribuições.
4.
A ênfase em experiências espirituais e
não na manifestação de frutos espirituais faz com que o pentecostalismo seja
marcado por desvios morais, tanto em seus líderes quanto no povo comum.
IV.
PERGUNTAS
PARA REFLETIR
A.
Por que você acha que os
pentecostais são os que mais crescem entre os evangélicos? Há razões boas e
ruins?
B.
Você já teve alguma experiência
semelhante à dos pentecostais? Como foi?
C.
Até que ponto podemos considerar
uma igreja pentecostal uma co-irmã de nossa igreja?
0 comentários:
Postar um comentário