Antes
de iniciar nosso assunto desta lição, vamos recapitular o que vimos até aqui
por meio de algumas situações imaginárias. Imagine que você entra em uma igreja
e se depara com um letreiro escrito “Sola Escriptura, Sola Gratia, Sola Fide”.
Em que tipo de igreja você estaria entrando? Mas, imagine que o pastor chegasse
para você e dissesse: “Todos os cultos há pessoas batizadas no Espírito, e
muitos recebem seus milagres”. Você começaria a pensar o que sobre essa igreja?
E então, você faria a seguinte pergunta: “Vocês são calvinistas?”. O que você
acha que seria respondido?
Nossa
lição 4 aborda mais um grande grupo de igrejas evangélicas brasileiras, as
igrejas fundamentalistas. Inicialmente, é importante sabermos que a grande
maioria das igrejas fundamentalistas não usa o termo, pois, nos dias atuais,
ele possui uma conotação negativa, comparada com “fanático”, “intolerante”. Por
isso, apesar de que os termos “pentecostal” e “reformado” sejam bem conhecidos,
o termo “fundamentalista” não é.
Primeiramente,
vamos entender um pouco da história destas igrejas, quem são elas e, depois,
veremos suas características e crenças básicas.
I.
HISTÓRIA
E DESENVOLVIMENTO
Nos
séculos XVII e XVIII, teólogos de várias igrejas e faculdades começaram a
abandonar crenças em doutrinas cridas pela igreja cristã desde a sua fundação.
Dentre estas doutrinas, as principais foram a inspiração da Bíblia (origem
sobrenatural) e a existência de milagres. Desta forma, muitos passaram a crer
na Bíblia como um livro humano, e a desacreditar na divindade de Cristo, em sua
ressurreição e seu retorno. Eles foram chamados de modernistas.
Nos
EUA, em reação a estes ensinos, cristãos de várias igrejas se uniram para
levantar uma bandeira contra estes desvios. Eles se chamaram de Fundamentalistas, pois estabeleceram
quais seriam as crenças fundamentais para todos os cristãos. Eles estabeleceram
estas cinco crenças: (1) inspiração plena e verbal das Escrituras; (2)
nascimento virginal de Cristo; (3) expiação substitutiva de Cristo; (4)
ressurreição física e segunda vinda de Cristo; (5) crença na realidade dos
milagres.
Porém,
embora muito tenha sido feito, havia ainda uma constante influência destes
mordenistas nestas igrejas. Isso levou estes fundamentalistas a saírem de suas
igrejas e fundarem novas igrejas, mas agora com um forte cunho separatista.
Nesse período, surgiram as Igrejas Batistas Regulares, os Presbiterianos
Fundamentalistas, as Igrejas Bíblicas independentes, e algumas outras.
Decorridos
alguns anos, em meados do século XX, houve uma forte separação dentro do
fundamentalismo. Um grupo grande de igrejas, outrora fundamentalistas,
decidiram dar menos valor à doutrina, e valorizar mais a prática da
evangelização e a interação com a sociedade. Daí surgiu o termo Evangélico, que no Brasil tornou-se o
principal termo que diferencia um crente do católico. Porém, este termo aponta
para igrejas que buscavam uma aproximação maior com a sociedade, com as
descobertas científicas, com outros grupos religiosos. Daí em diante, o
fundamentalismo deixou de ser apenas uma questão de crença, e passou a ser uma
questão denominacional. Ou seja, assim como há cristãos pentecostais e
reformados, há os cristãos fundamentalistas.
No
Brasil, as igrejas fundamentalistas são representadas por igrejas Batistas.
Dentre elas, as principais são as Igrejas Batistas Regulares, as Igrejas
Bíblicas Batistas, as Igrejas Batistas Bíblicas, e as Igrejas Batistas da
Convenção, esta última, porém, fortemente influenciada pelo secularismo
evangélico.
A
grande maioria destas igrejas está no Norte e Nordeste do Brasil, além de
trabalhos fortes em São Paulo e no estado do Paraná. Foram estas regiões que
receberam o maior número de missionários norte-americanos, fundadores destas
igrejas.
II.
CRENÇAS
BÁSICAS E CARACTERÍSTICAS GERAIS
A.
Crenças
Básicas
1.
As igrejas Batistas fundamentalistas comungam
com os reformados em sua crença nas cinco solas da reforma: sola escriptura,
sola gratia, sola fide, soli deo glória e solus christus.
2.
A grande maioria abraça a fé calvinista.
Algumas creem em um “calvinismo moderado”, que é quando não se abraça algum
ponto dos cinco pontos do calvinismo. E ocasionalmente, há igrejas
fundamentalistas arminianas.
3.
As crenças básicas dos batistas, além dos “fundamentos”
mencionados anteriormente, podem ser resumidas pelo seguinte acróstico:
a)
Bíblia
como única regra de fé e prática.
b)
Autoridade
de Cristo como o Cabeça da Igreja.
c)
Trabalho
dividido em dois ofícios: pastores e diáconos.
d)
Imersão
(batismo) e Ceia: as duas ordenanças.
e)
Sacerdócio
individual de cada crente.
f)
Todos
os membros regenerados e batizados.
g)
Autonomia
da igreja local.
h)
Separação
entre a Igreja e o Estado, e da heresia.
4.
Os batistas se diferenciam dos reformados nos
seguintes aspectos:
a)
Crença no batismo por imersão, e não por
asperção, e apenas de crentes, e não crianças.
b)
Crença na autonomia da igreja local. As
igrejas batistas creem que cada igreja deve responder apenas a si mesma,
diferentemente dos reformados, que ensinam um presbiterianismo acima da igreja
local.
c)
Não são confessionais. As igrejas batistas
possuem a prática de elaborarem, cada igreja, sua própria confissão de fé.
d)
Crença no retorno iminente de Jesus e de um
reino terreno futuro de Cristo em Israel no futuro. Todos os Batistas
fundamentalistas creem que Deus tem um plano especial para Israel,
diferentemente da maioria dos reformados.
5.
Os Batistas se diferenciam dos pentecostais
nos seguintes aspectos.
a)
São cessacionistas, ou seja, acreditam que os
dons perderam sua necessidade com a conclusão da Bíblia. Por isso, não se deve
praticar os dons sobrenaturais, como línguas e profecias, nos dias atuais.
b)
São conservadores quanto ao culto. A
grandiosa maioria das igrejas fundamentalistas são conservadoras quanto à
liturgia, realizando cultos mais comedidos, com o pouco uso de cânticos
contemporâneos, e com pregação expositiva.
6.
Outras crenças marcantes dos fundamentalistas
são:
a)
Interpretação literalista de gênesis 1.
b)
Interpretação literal das Escrituras.
c)
Prática da disciplina eclesiástica.
d)
Uso do apelo para a conversão.
B.
Características
Gerais
1.
Uma das características mais marcantes dos
fundamentalistas é o separatismo, a prática de não se associar com aqueles que
ensinam diferente, principalmente em pontos centrais, mas ocasionalmente em
pontos secundários, como liturgia, melhor tradução da Bíblia.
2.
Forte valorização da doutrina das ultimas
coisas. Por conta da crença na iminência da volta de Cristo, os batistas dão
muito valor à análise dos sinais do retorno de Cristo e ao estudo minuncioso de
como se dará o fim do mundo. Esse é um fator que tem feito muitos
fundamentalistas não quererem caminhar com reformados.
3.
Forte espírito de censura. Em diversas
igrejas fundamentalistas, há um espírito de censura quanto a pontos periféricos.
Por exemplo, no Ceará, muitas igrejas censuram o uso de bateria no louvor a
Deus. Na Paraíba, existe uma censura forte quanto a algumas traduções da
Bíblia. O problema é que esta censura chega ao nível da separação e até de
divisões.
4.
Forte valorização do trabalho missionário. As
igrejas fundamentalistas possuem missões de envio missionário muito fortes.
Missões como a Missões Multiculturais Maranata, do Ceará, e a Missão Batista
Bíblica Fundamentalista, do Paraná, enviam missionários para vários
continentes.
5.
Realização de Associações. Apesar de serem
autônomos, tais igrejas buscam associarem-se em grupos, como a AIBREB
(Associação dos batistas regulares do Brasil). Não são grupos que resolvem
assuntos das igrejas, mas servem para comunhão mútua.
III.
BREVE AVALIAÇÃO DOS FUNDAMENTALISTAS
A.
Pontos
Positivos
1.
Forte firmeza doutrinária. O motivo pelo qual
raríssimos desvios doutrinários ocorrem nas igrejas fundamentalistas é pela sua
fortíssima ênfase na defesa dos “fundamentos” da fé. Isso faz com que,
raramente, uma igreja fundamentalista não seja boa para o crescimento
espiritual.
2.
Forte ênfase na vida espiritual. Estas
igrejas, por valorizarem as Escrituras, pregam e estimulam o crescimento em
santidade. Por isso, existe trabalhos fortes na pregação, no aconselhamento e
no discipulado pessoal.
3.
Culto conservador. O estilo de culto destas igrejas
faz com que o secularismo, o emocionalismo e o mundanismo dificilmente façam
parte de sua liturgia. Assim, a igreja pode ter como atrativo apenas a pregação
da Palavra.
4.
Forte espírito de grupo. Apesar de serem
autônomas, as igrejas fundamentalistas esforçam-se bastante para apoiarem umas
às outras. Isso faz com que os trabalhos missionários sejam melhores
realizados.
B.
Pontos
Negativos
1.
O separatismo destas igrejas, muitas vezes,
prejudica o avanço da obra de Deus. Por exemplo, algumas igrejas do Ceará não
incentivam a ida à Conferencia Fiel, e nem a associação com qualquer
instituição reformada. Já vi pastores fundamentalistas repudiando a Escola
Charles Spurgeon, apenas por ter professores reformados.
2.
A forte ênfase nos sinais do fim produz, em
muitos, uma verdadeira mania pelo futuro, buscando conspirações, eventos ou
qualquer coisa que leve à chegada do fim.
3.
O separatismo também acaba produzindo pouco
engajamento social. Por isso, estas igrejas acabam sendo desconhecidas do
grande público, produzindo pouquíssimo impacto na sociedade.
4.
O forte espírito de grupo gera um risco de
tornar um grupo específico quase em uma seita. Por exemplo, em algumas regiões,
bateria no culto é proibido, e qualquer igreja que discorde precisa se retirar
do grupo.
IV.
PERGUNTAS
PARA REFLEXÃO
A.
Dos
três grupos vistos, qual você acha mais parecido com sua igreja?
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